quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Abandono de animais em pet shops e clínicas é contra a lei

Muita gente não sabe, mas abandonar animais em clínicas veterinárias, ONGs ou pet shops, configura crime passível de punição. Em alguns casos, a atitude pode parecer bem intencionada, quando as pessoas que fazem isso agem assim porque acharam um animal atropelado ou machucado e gostariam de ajudar. Mesmo assim, a ação prejudica os protetores e entidades de proteção animal, que devido a falta de políticas públicas para coibir o abandono e os maus tratos, acabam acumulando casos de resgates e dívidas.
Infelizmente, a intenção pode ser a pior, quando esses animais são abandonados em estradas e vias movimentas justamente para morrer, ou quando o tutor do animal decide que não quer mais criá-lo e simplesmente o põe para fora de casa, deixando-o vagando pelas ruas sujeito a todo tipo de maus tratos.
O decreto federal 24.645, que é normatizado pelos municípios, criminaliza a prática de “abandonar animal doente, ferido, extenuado ou mutilado, bem como deixar de ministrar-lhe tudo o que humanitariamente se lhe possa prover, inclusive assistência veterinária” em seu artigo 3°. Mesmo assim, a prática tem se tornado comum em Minas Gerais.
Em Belo Horizonte, a protetora de animais Candice Araújo, de 37 anos, é uma das que sofre com isso. “Já deixaram várias vezes cachorro no meu portão porque sabem que eu cuidaria, mas minha despesa com tantos resgates é alta, e eu pago aluguel e ganho pouco, então acabo sofrendo com isso. Infelizmente, o abandono é mais comum do que imaginam. Uns abandonam na porta de um protetor, outros em pet shops, e ainda há aqueles que abandonam na BR para que morram atropelados, outros apenas põem o bichinho pra fora de casa e o pobre fica vagando nas redondezas do antigo dono”, conta. A protetora, atualmente, mantém 15 cães e 16 gatos em casas, entre animais tutelados por ela, resgatados das ruas e também de outros tutores que a pagam para cuidar.
A veterinária Raphaele Lessa, de 26 anos, também moradora da capital, conta que a prática é recorrente na clínica em que trabalha. “Acontece muito, já deixaram filhotinhos de gato que acabaram de nascer, na placenta ainda, ou ninhadas inteiras de animais, cachorros e gatos maltratados, doentes, extremamente debilitados. Os que sobrevivem, a gente consegue encaminhar pra uma adoção. Mas isso é ruim pra gente, é muito melhor quando a pessoa nos procura e pede ajuda. Essa atitude é apenas jogar o problema nas costas dos outros”, explica.
Outra protetora, que promove feiras de adoção em Contagem, mas não será identificada, conta que a atitude é frequente. “Os bons veterinários não sacrificam nunca. Eles colocam para adoção e sofrem com o excesso de animais que acabam ficando com eles por não poderem ser adotados, mas é claro que nem todos os veterinários são assim, porém, nenhum deles irá admitir que sacrifica animal de forma aleatória. Se descobrirmos este crime, denunciamos na hora. Quando o infrator é identificado pelas câmeras de segurança ou por testemunhas, ele é indiciado pelo crime de abandono”, explica
Mico
A responsável por um clínica veterinária em Divinópolis, na região Centro-Oeste de Minas, Eliane Andrade, de 54 anos, acolheu um inusitado animal abandonado em sua porta: um sagui recém-nascido. “O pobrezinho estava aqui na porta, a gente acha que a mãe dele morreu. Já tem umas duas semanas que estamos cuidando dele, o alimentando na mão, e parece que ele vai sobreviver”, conta a veterinária.
A grata surpresa foi ver que o pequeno se afeiçoou a outro animal de Eliane, a cachorrinha Lira. “Como ele sente muita falta da mãe ele fica chorando quando não está com a Lira. Adora ficar nas costas dela, e ela também é muito boazinha, então, acabou adotando ele. Hoje em dia quem dá o exemplo pra gente são os animais”, conta.
Além de Lira e do sagui, Eliane acabou adotando também uma gatinha que foi abandonada na clínica. “Essa gatinha acabou ficando pra mim também. A pessoa deixa aqui, fala que vem buscar e acaba não voltando e fica sem pagar. Infelizmente, isso acontece muito. Aí eu castrei a gatinha, cuidei dela, e ela se adaptou tão bem que sempre volta para comer e descansar. Quando a pessoa não vem buscar, eu deixo o animal solto, mas continuo tratando. Nunca sacrifiquei nenhum animal que tenha sido abandonado aqui”, conta.
A veterinária conta que após tratar e cuidar do sagui e ele começar a conseguir se alimentar sozinho, irá acionar a Polícia Militar de Meio Ambiente, para que ela possa ser encaminhado e readaptado à natureza.
Hospital público veterinário
O ambientalista e protetor de animais Franklin de Oliveira, de 46 anos, considera a atitude irresponsável. “Hoje existem inúmeros grupos de defesa animal nas redes sociais que podem ajudar uma pessoa que quer doar um animal. Empurrar o ´problema´ para os outros é muita maldade, além de ser ilegal. O abandono de animais é crime. A maioria dos animais abandonados em clínicas estão doentes. Por isso que hoje, umas das nossas maiores bandeiras é a criação de hospitais veterinários públicos para atendimento aos animais das populações carentes. Isso com certeza diminuiria o abandono”, diz.
Para o ambientalista, ao se encontrar um animal ferido ou abandonado, uma das saídas é divulgar nas redes sociais e buscar ONGs e grupos de defesa animal em sua cidade. “Lembrando que todos estes grupos estão endividados, então, toda ação deve ser compartilhada. A pessoa que resgatou o animal pode dividir os custos”, explica.
                                                      Gatinha foi abandonada na porta na clínica, e veterinária a adotou

Fonte: O Tempo

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